terça-feira, 12 de março de 2013

Abertura das igrejas

Por Carlos Chagas

Este artigo faz parte da série O que é ser cristão? Caso queira acessar o índice clique aqui.


Após o desmembramento da filosofia da teologia, e quando se passou a ter o homem como a medida de todas as coisas, maior ficou o desafio ao cristianismo. Novas concepções e novas formas de diálogo se tornaram iminentes. Devido ao grande desenvolvimento da história humana com a hipervalorização da razão humana o que antes era taxado de secular pela Igreja e o que também era visto como pagão e digno de repúdio, agora precisou ser visto por uma nova ótica.

Assim nasceu a teologia de cunho humanista. Em uma época em que tudo que se refere ao não-humano; no caso Deus, passu a ser considerado digno de repúdio. Como a contemporaneidade rejeitou tudo que era relacionado a Deus a Igreja passou a ser vista como uma subcultura atrasada. Se antes a Igreja rejeitava a cultura, agora a cultura é que rejeita a Igreja. Logo, a Igreja precisou se abrir ao problema das relações com a cultura de sua época, adotando novas formas de abordagens e, como foi dito acima, novas formas de diálogo.



Mas o problema não nasceu apenas fora das igrejas. A Igreja passou e passa por problemas internos. Se esta se demonstra progressiva para fora ainda tem o problema do conservadorismo interno tornando-se uma Igreja preocupada com a democracia e direitos humanos aqui fora e, concomitantemente, autoritária e secreta em suas ações internamente.

Entretanto, tudo isso foi bom à Igreja: Se antes ela não valorizava a cultura nascente no povo, o qual era julgado por bruxarias, perversões, desviados da verdadeira fé, agora já concordam com a busca do que é integral para o homem. É o que chamamos de “voltar-se para o homem”. Desde seu início a teologia cristã deveria valorizar não só o que é divino mas também o que é humano. É fato que houve um desvio de propósitos no meio do caminho.

Apesar de ser ter na história verdadeiros cristãos que brigaram pela justiça na terra, como pôde ser visto na Guerra do Vietnam e na América Latina e em favor dos negros norte-americanos, ainda é pouco quando se pensa que foi a minoria e não a Igreja como um todo que lutou por isso. É diante disso e de outras situações idênticas que nascem perguntas sobre a real necessidade de se ter o cristianismo como a norma mais pura de ética e moral humanas. Se houve quem lutou, em pé de igualdade e, talvez, em melhor qualidade que cristãos, para que se ter o cristianismo? Não há como negar que houve grandes cristãos brigando contra a tirania e o mal da terra, nomes como João XXIII, Martin Luther King, John Kennedy assim também foi visto nomes daqueles que não eram, em título, cristãos, como Mahatma Gandhi, que no mínimo, foi inspirado pelo espírito de Cristo. Logo, não só a Igreja lutou pelo que é certo aos homens. É como se as pedras clamassem em lugar dos crentes em Cristo.

É nessa ilegitimidade de ações cristãs que nascem humanistas que questionam a existência do cristianismo com perguntas do tipo "ainda é necessário?". Porém, não é só do lado dos humanistas que se vê brigas por legitimação. Do lado cristão também se vê isso. Existem os cristãos que lutam para destacar a “miséria do humanismo”, assim como tem os humanistas que lutam para provar a “miséria do cristianismo”. O fato é que nem um nem outro tem o direito de anular alguém em suas ações. A miséria do cristianismo está intimamente ligada à miséria do humanismo e ambas estão estritamente ligadas às misérias de outras faculdades. A secularização crescente de nossa época não pode afirmar e impor que sua ascensão se deu pela ilegitimidade da fé cristã, como também a filosofia não pode dizer que a compreensão e controle de tudo é um produto original da filosofia. Aqui se deve ter a sensatez de dizer que tudo é um processo dialético.

Portanto se a Igreja precisou se abrir para esse processo dialético assim também o humanista deve se humilhar para dizer que não é quimicamente puro em suas origens, já que o mesmo não conseguiu por, de forma efetiva, seu plano a funcionar e é o que se provará mais adiante desse estudo. Não há como negar: O cristianismo deixou um infinito legado de valores os quais são e serão aproveitados por qualquer linha de pensamento que existe ou há de existir. Até mesmo os Iluministas devem e muito ao cristianismo.

Mas aqui se retém o progresso desse estudo em uma coisa: Se os humanistas não-cristãos (liberais, marxistas, positivistas, etc) conseguiram praticar um humanismo melhor que os cristãos (e isso é fato), nasce então a necessidade de os cristãos que fracassaram consertarem suas ideias já que fracassaram não só como humanistas que são, mas como cristãos também. Assim, o que se vê, é que a abertura das igrejas ao diálogo é algo bem desafiador.


Para voltar ao índice clique aqui

Para continuar com o estudo clique aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não esqueça de comentar esta postagem. Sua opinião é muito importante!