terça-feira, 26 de março de 2013

Da boca pra fora ou com critério?

Por Carlos Chagas

Um dia minha esposa me pediu para ler um texto e depois respondesse algumas perguntas sobre ele. Fiquei surpreso com a dinâmica que ela realizou e então gostaria de fazê-la aqui:

Texto:

Gifono e Gilono

Era uma vez, dois latagos, Gifono e Gilono, que alopavam na branguela perto de um broto mou. Todos os dias, os dois latagos carebavam bem vade para tenar no mou, torendo sobre um drante da câlega apelisado. Um dia, ao torer sobre o drante, Gifono e Gilono ospelevaram e brecalharam nas bonas druas do mou.

Perguntas (procure responder todas elas):

1- Quem eram os dois latagos?
2- Onde eles alopavam?
3- Quando os dois latagos carebavam?
4- O que aconteceu um dia?
5- Copie a última frase do texto.
6- Você já viu outras atividades de leitura parecidas como esta? Se a resposta for afirmativa, especifique onde elas, normalmente, aparecem.


Se a sua resposta para a questão 6 foi "na escola onde estudei (leciono), pasme: Foi também a minha resposta. Após responder as demais questões, daquela forma que qualquer aluno do Ensino Fundamental responderia, minha esposa realizou a dinâmica que ela costumava fazer com professores da rede estadual de ensino. Ela me disse que assim como eu respondi um texto que não teve qualquer sentido para mim da mesma forma que respondo textos com sentido, assim também acontece com alunos da rede estadual. Eles não interpretam um texto e sim, devido aos vícios adquiridos na sua forma de "interpretar" um texto, eles apenas fazem aquilo que é convencional, associando palavras das perguntas com as palavras do texto não importando sua compreensão do mesmo. Talvez os professores tenham esquecido o que é interpretar (senso de criticidade) e o que é repetir ações ou palavras.

Aplicação para a Igreja:

Depois dessa dinâmica passei a pensar sobre o que aprendemos nas EBD's ou catecismos. Às vezes pedimos para os alunos decorarem versículos bíblicos ou frases do tipo "O Senhor é bom" e nos esquecemos da importância da interpretação. A arte de interpretar nem sempre chega ao mesmo denominador comum. Ainda mais quando se trata de religião. 

O problema que temos com uma simples leitura bíblica parte da não compreensão sobre o que é uma plantação (versículos sobre agricultura) ou como se faz para pastorear ovelhas (os cuidados com o animal; e não com gente) e chega aos louvores que cantamos dizendo coisas sem muito sentido ou compreensão para os dias atuais. Às vezes me pergunto: Será que todos entendem sobre agropecuária quando leem, por exemplo Gl 6.6-10? Cheguei até mesmo a comentar sobre interpretações erradas sobre este tipo de texto (clique aqui para ler).

Para descontrair e fixar o conteúdo, veja a tirinha abaixo (desculpe o exagero dela, mas é que tive que atrair sua atenção):


Importante: Para ver melhor a tirinha clique nela.

"Currupaco, O Senhor é bom, currupaco". Currupaco, para quem não entendeu é uma onomatopéia de um papagaio. Quando Paulo disse que a Lei sairia das pedras para ir ao coração e esse de carne não era à toa. Ele tratava daqueles que não viviam o que falavam. Infelizmente hoje só é considerado cristão quem decora textos e versículos, muitos deles sem nexo com a aplicação, ou quem vive regras de fé que deveriam ser para o homem, mas o que acaba por ser é o homem para as regrinhas eclesiásticas.

Fica aqui esta reflexão para que professores não mais escutem seus alunos responderem o que querem e sim o que eles sentem ou acreditam.

domingo, 24 de março de 2013

Oração do medo

Por Carlos Chagas

Meus Deus;

Ultimamente o Senhor tem escutado minhas orações e em quase todas elas tenho deixado claro a minha angústia de vida. Sempre orei ao Senhor escondido em meus cantos, mas hoje gostaria de orar em meu blog porque creio que não é só eu que clamo diante de tais problemas e sei que se mais pessoas lerem essa oração mais se comprovará a Ti o quanto estamos necessitados pelo Senhor.

Quanto medo Senhor! Quanto medo! Medo de cair nas mãos dos homens. Medo dos políticos que outrora diziam ser meus representantes e, se são, percebo que sou ladrão, assassino passivo e corrupto. Se eles me representam deixam claro que sou digno do inferno pela minha injustiça e egoísmo. Tenho medo também das enfermeiras-chefe que se assemelham àquela do Hospital Evangélico do Paraná. Pago em dia minhas contas e dentre elas meu Plano de Saúde, o qual torço todos os dias para não usar porque sei que o hospital brasileiro já não é mais lugar para a cura e sim de morte. São corredores lotados com centenas morrendo nos mesmos e atualmente aqueles que se encontram "bem alocados" no hospital agora estão sofrendo eutanásia! Meu Senhor, me afaste deste malignos. Dê-me saúde e me faça homem justo.

Também há medo em mim quando saio às ruas. Já não sei em quem confiar: No traficante ou na polícia. Digo isso Senhor devido à realidade de meu bairro. O traficante faz o mal, mas graças à polícia que lhe dá cobertura e essa é a que faz o patrulhamento ostensivo em minha comunidade com o pretexto de zelar pela minha segurança. Senhor, tremo ao sair de casa com meu filho. O que será dele? Será que devo brincar com ele dizendo :"Filho, quando crescer será você um policial"?, ou devo dizer que o honesto e estudioso é o bem-sucedido na sociedade ostentando a mentira? Tenho medo Senhor. Medo de dizer mentiras ao meu filho para enganá-lo e fazê-lo caminhar num bom caminho aos meus olhos e não ser bem apresentável aos Seus ou então dizer a verdade e perdê-lo para sempre. E isso sem falar da impressora 3D que já está sendo usada nos EUA para fabricação caseira de armas de fogo sem o conhecimento de autoridades do Governo. O que será de nós?

Na verdade Senhor, já não sei se devo continuar a ser honesto! Nem mesmo na Igreja temos tido bons exemplos! A Realidade que vivo não colocarei aqui no blog por medo e por crer que não vai edificar da melhor forma, mas sinceridade, já não sei mais o que pensar. São pastores mentindo, roubando, expulsando honestos e profetas, da mesma forma que o povo da igreja aprova tudo com sua pacividade e silêncio. É igreja gay, igreja de arrecadação, igreja do "oba-oba"... tanta leitura de um mesmo livro que chego a achar que sou eu o errado. Dai nasce o medo. Medo de lhe desapontar. Será que ainda devo amar o próximo? E como devo amar? Será que é fazendo sexo com o próximo do mesmo sexo? Ou dando o peixe e não a vara de pescar? Senhor, sinceridade, estou com medo.

E quanto à alimentação? Hoje em dia tenho medo. Medo de comer carne de cavalo, carne com febre aftosa, gripe aviária, suína, leite com ácido, alimentos transgênicos que não foram testados, biscoitos com parafusos, baratas, mofos, etc. Água mineral com coliformes fecais, frutas com toxinas, com informações mentirosas na embalagem. Na boa Senhor, já presenciei profissionais dizerem que o tomate provoca o câncer e outros dizerem o contrário! Em quem acreditar? Já perguntei isso a outros da minha raça (e que raça viu!) e todos dizem: "Confie em Deus!" Será que devo fazer minha parte ou devo entregar TODA  a responsabilidade ao Senhor? Se devo fazer algo, o que devo fazer? E se devo entregar tudo ao Senhor, por que o Senhor demora em agir?

Por fim Senhor, recentemente alguns tentaram comprar minha fé. Alguns ofereceram cargos eclesiais, outros dinheiro, outros benefícios... e o pior é que são quase todos aprovados pelo seu povo. Alguns têm até canais "abençoados" na TV e no rádio! Peço ao Senhor a intervenção na minha causa porque não sei até quando vou aguentar. E quanto ao Papa, espero Senhor que ele siga o ideal de São Francisco de Assis, o monge inspirador de seu nome de pontifício: Dar ao próximo o que eu tenho em dobro. Aliás, este é o ideal do cristianismo todo não é? Ou já não é mais? Aguardo resposta.

Sinceridade de seu filho merecedor de palmadas santas

CHAGAS

terça-feira, 19 de março de 2013

Liquidação do crístico?

Por Carlos Chagas

Este artigo faz parte da série O que é ser cristão? Caso queira acessar o índice clique aqui.

Alma perdida

Não só a Igreja se envolveu com a mudança do mundo, para se tornarem mais humanistas. Todos que são humanos assim se tornaram. E tal mudança para a Igreja foi algo necessário já que sua existência se defrontava com duas questões: 1) se eu continuar a ser a mesma Igreja de sempre o que acontecerá será o esvaziar nos cultos e missas de forma gradativa? e 2) se eu mudo minha concepção de vida e fé até onde perdurarei e até onde não deixarei de ser cristã?

Uma vez que a Igreja passou a ser mais humanista e por valorizar o secular não faltaram críticas e elogios. Alguns dizem que a Igreja passou a se inclinar para a autodestruição enquanto alguns dizem que é mais uma tentativa de diálogo entre as partes já que se fechar não caracteriza um diálogo.

O fato é que as Igrejas se tornaram por demais abertas ao diálogo e correndo o risco de perderem suas características que a definem. Todavia, mesmo enquanto ainda eram fechadas e conservadoras ao extremo ainda podia-se ver pessoas que iam (e vão) à Igreja para tão somente entregarem seu dízimo garantindo assim, talvez, um lugar no céu. Mas será que a Igreja atualmente não passa de um aglomerado de pessoas que se ajuntam, mas não se reúnem? Será que não deverão largar seu título Igreja? (Igreja = Ekklesia = comunidade = reunião para algo comum). Pois o que se vê é uma aglomeração de pessoas as quais pensam apenas em si próprias. 



No que tange a teologia outro problema surge: Como guiar a Igreja, uma vez que se se mantém o conservadorismo a mesma se torna ultrapassada e se se parte para ser progressista perde sua identidade? Em suma é: O homem é o centro de tudo e não há lugar para Deus. A teologia fala das coisas divinas e a Igreja precisa da mesma para subexistir. Logo, como será a Igreja se de Deus já não mais se pode falar?

Não há retorno

Como dizia Heráclito: “Não se atravessa um mesmo rio duas vezes”. Assim também é a entrada da Igreja no universo humanista. Desafiador e perigoso é este ingressar da Igreja uma vez que discutirá assuntos que outrora eram nocivos e inaceitáveis à Igreja. Mas assim como é um desafio para a Igreja também o é para os humanismos que agora tendem a enfrentar os “despertados” à discussão, já que se trata do humano que antes só escutava o que de Deus era para se ouvir. Agora o mesmo fala de si para si. Já não é mais uma instituição mas o racional humano que desafia e se desafia a superar limites. E o que se vê agora é o contrário da proposta inicial, que eram as respostas. Hoje, o que se aumentou foram as dúvidas, nas quais, o que se tem, são apenas expectativas de seu aumento. 


Para voltar ao índice clique aqui

Para continuar com o estudo clique aqui.


terça-feira, 12 de março de 2013

Abertura das igrejas

Por Carlos Chagas

Este artigo faz parte da série O que é ser cristão? Caso queira acessar o índice clique aqui.


Após o desmembramento da filosofia da teologia, e quando se passou a ter o homem como a medida de todas as coisas, maior ficou o desafio ao cristianismo. Novas concepções e novas formas de diálogo se tornaram iminentes. Devido ao grande desenvolvimento da história humana com a hipervalorização da razão humana o que antes era taxado de secular pela Igreja e o que também era visto como pagão e digno de repúdio, agora precisou ser visto por uma nova ótica.

Assim nasceu a teologia de cunho humanista. Em uma época em que tudo que se refere ao não-humano; no caso Deus, passu a ser considerado digno de repúdio. Como a contemporaneidade rejeitou tudo que era relacionado a Deus a Igreja passou a ser vista como uma subcultura atrasada. Se antes a Igreja rejeitava a cultura, agora a cultura é que rejeita a Igreja. Logo, a Igreja precisou se abrir ao problema das relações com a cultura de sua época, adotando novas formas de abordagens e, como foi dito acima, novas formas de diálogo.



Mas o problema não nasceu apenas fora das igrejas. A Igreja passou e passa por problemas internos. Se esta se demonstra progressiva para fora ainda tem o problema do conservadorismo interno tornando-se uma Igreja preocupada com a democracia e direitos humanos aqui fora e, concomitantemente, autoritária e secreta em suas ações internamente.

Entretanto, tudo isso foi bom à Igreja: Se antes ela não valorizava a cultura nascente no povo, o qual era julgado por bruxarias, perversões, desviados da verdadeira fé, agora já concordam com a busca do que é integral para o homem. É o que chamamos de “voltar-se para o homem”. Desde seu início a teologia cristã deveria valorizar não só o que é divino mas também o que é humano. É fato que houve um desvio de propósitos no meio do caminho.

Apesar de ser ter na história verdadeiros cristãos que brigaram pela justiça na terra, como pôde ser visto na Guerra do Vietnam e na América Latina e em favor dos negros norte-americanos, ainda é pouco quando se pensa que foi a minoria e não a Igreja como um todo que lutou por isso. É diante disso e de outras situações idênticas que nascem perguntas sobre a real necessidade de se ter o cristianismo como a norma mais pura de ética e moral humanas. Se houve quem lutou, em pé de igualdade e, talvez, em melhor qualidade que cristãos, para que se ter o cristianismo? Não há como negar que houve grandes cristãos brigando contra a tirania e o mal da terra, nomes como João XXIII, Martin Luther King, John Kennedy assim também foi visto nomes daqueles que não eram, em título, cristãos, como Mahatma Gandhi, que no mínimo, foi inspirado pelo espírito de Cristo. Logo, não só a Igreja lutou pelo que é certo aos homens. É como se as pedras clamassem em lugar dos crentes em Cristo.

É nessa ilegitimidade de ações cristãs que nascem humanistas que questionam a existência do cristianismo com perguntas do tipo "ainda é necessário?". Porém, não é só do lado dos humanistas que se vê brigas por legitimação. Do lado cristão também se vê isso. Existem os cristãos que lutam para destacar a “miséria do humanismo”, assim como tem os humanistas que lutam para provar a “miséria do cristianismo”. O fato é que nem um nem outro tem o direito de anular alguém em suas ações. A miséria do cristianismo está intimamente ligada à miséria do humanismo e ambas estão estritamente ligadas às misérias de outras faculdades. A secularização crescente de nossa época não pode afirmar e impor que sua ascensão se deu pela ilegitimidade da fé cristã, como também a filosofia não pode dizer que a compreensão e controle de tudo é um produto original da filosofia. Aqui se deve ter a sensatez de dizer que tudo é um processo dialético.

Portanto se a Igreja precisou se abrir para esse processo dialético assim também o humanista deve se humilhar para dizer que não é quimicamente puro em suas origens, já que o mesmo não conseguiu por, de forma efetiva, seu plano a funcionar e é o que se provará mais adiante desse estudo. Não há como negar: O cristianismo deixou um infinito legado de valores os quais são e serão aproveitados por qualquer linha de pensamento que existe ou há de existir. Até mesmo os Iluministas devem e muito ao cristianismo.

Mas aqui se retém o progresso desse estudo em uma coisa: Se os humanistas não-cristãos (liberais, marxistas, positivistas, etc) conseguiram praticar um humanismo melhor que os cristãos (e isso é fato), nasce então a necessidade de os cristãos que fracassaram consertarem suas ideias já que fracassaram não só como humanistas que são, mas como cristãos também. Assim, o que se vê, é que a abertura das igrejas ao diálogo é algo bem desafiador.


Para voltar ao índice clique aqui

Para continuar com o estudo clique aqui.

terça-feira, 5 de março de 2013

A volta para o homem

Por Carlos Chagas

Este artigo faz parte da série O que é ser cristão? Caso queira acessar o índice clique aqui.

Apesar de todos os estudos racionais dos últimos tempos terem tentado “matar” Deus este ainda se demonstra vivo, como também denota que o homem precisa, assim como antes, dele. O fato de haver muitos ataques sobre o cristianismo ainda é fácil provar que este é aceitável e valioso. Todavia não se nega uma das duas possibilidades: Estaria o cristianismo enganado em sua concepção de vida ou não foi levado a sério pelos seus e demais?

Muita coisa mudou na sociedade hodierna: ciência, técnica, cultura, etc. Não obstante o que se vê é a mesma busca da vontade de ser humano (humanização). Mas o cristianismo já não procurava esta qualidade em si antes? 

O processo histórico que vimos nos nossos antepassados (lembre-se do Iluminismo) provou que a busca por "matar" Deus falhou e, o que se vê agora, é um Deus mais vivo e presente que antes despertando a vontade incontrolável de crer, a despeito de toda a incapacidade de crer. 

Outra coisa interessante é perceber que a teologia, que agora era para já estar desmantelada após tantos investimentos contra a mesma, vem apresentando mais ferramentas para o diálogo e para uma belíssima apresentação do que é ser efetivamente cristão. Mas antes de falarmos da mesma (será dito bem à frente) percebamos o nosso horizonte. 

Mundo secular 

Na contemporaneidade reina a vontade do homem de ser efetivamente humano: Sem mais nem menos (nem super-humano nem infra-humano). De 4 séculos para cá ficou notório como que o homem conseguiu se tornar o centro dos estudos e de como passou a dominar e definir racionalmente as coisas. 

Como em todos os âmbitos da vida houve a secularização também na igreja cristã; a igreja passou por tal transformação. A secularização deve ser entendida como a releitura de tudo a partir do homem. A racionalidade humana deve estar incutida nesta releitura. 

Com isso, lentamente na história, a igreja passou a desenvolver uma teologia mais secularizada. Esta deveria responder à filosofia moderna que era antropocêntrica. Logo, a igreja passou a ser secularizada em suas funções e pensamentos. O que antes era a tentativa de apresentar ao homem a pessoa de Deus, agora é explicar ao homem, de forma racional, a possível existência Dele e a vida tal como ela é. 

Para voltar ao índice clique aqui

Para continuar com o estudo clique aqui